Quando a minha filha veio com uma história de que eu precisava me cuidar mais, passar uns cremes no rosto e prestar atenção nas rugas, eu logo pensei: “Essa menina, no mínimo, enlouqueceu”. E explico porquê tal pensamento: eu, corretor imobiliário do mercado de luxo, 52 anos, com cara de 30 e corpinho de... bom, acho que me encaixo melhor num 'corpão' de 49, ainda faço muito sucesso. E o que são algumas rugas? Isso só demonstra que tenho experiência de vida. Já a barriga, posso justificar pelo roteiro gastronômico que freqüento, afinal, boa comida nunca se deve recusar. Mas sabe como é mulher, bate o pé, faz cara feia e fica buzinando até a gente aceitar.
Segunda-feira
No acordo, eu experimentaria dois produtos para o rosto por uma semana. “Primeiro o esfoliante e depois o hidratante facial, não vai esquecer”, repetiu ela dezenas de vezes. Claro que não esqueceria. Tomei meu banho, saí do chuveiro, fiquei diante do espelho e antes de encarar o dito cujo pensei, “mas qual a quantidade de gel que eu passo?”. Isso ela não falou! Mas não perguntaria para a menina, era capaz de ela rir da minha cara e nem responder. Quanto mais, melhor, não é? Portanto estendi a mão e enchi do gel com aqueles grãos parecidos com areia e passei no rosto com toda 'delicadeza' que ela me pediu. “Pai, esses cristais servem para remover as células mortas”, pois é, mas não foram só as mortas que saíram com aquele esfrega-esfrega, as vivas também entraram na dança. Terminei aquela 'adorável' experiência com o rosto vermelho e ardendo. Depois jantei com uns amigos do futebol e nada mais. Fui lembrar da porcaria do “hidratante que controla a oleosidade da pele”, como ela explicou, só depois que voltei pra casa. Assim que cheguei em casa, passei, o que acabou sendo bom, porque o meu rosto estava bem ressecado. Acho que usei um pouco demais, porque ficou meio melecado, mas a intenção era compensar o tempo perdido. Pelo jeito não deu muito certo.
Quarta-feira
De manhã ela me liga. “E aí pai, correu tudo bem? Não esqueceu de passar o esfoliante e depois o hidratante?”, e eu, “claro que não, fiz tudo como você pediu”. Desliguei e caminhei até o banheiro, a minha sabatina estava prestes a começar. Tomei banho, saí do chuveiro, fiquei diante do espelho e antes de encarar o dito cujo me preparei: coloquei uma quantidade de esfoliante que cobriu apenas dois dedos, espalhei um pouco na outra mão e, de lá, para o rosto. Esfreguei com menos empolgação e enxagüei. Esquecendo o fato que encharquei o banheiro inteiro lavando o rosto para tirar o esfoliante, correu tudo bem. Não ardeu, não fiquei em carne viva, o rosto parecia mais limpo e desta vez lembrei do hidratante. Passei em menor quantidade que da primeira vez, mas aproveitei para colocar um pouco na mão e nos braços, afinal o creme era cheiroso. Ontem a minha secretária até perguntou que perfume eu estava usando, e claro que respondi, "nenhum, esse sou eu mesmo!"
Sexta-feira
Dono de uma pele que parecia bunda de bebê, no último dia do acordo fiquei com uma dúvida. Não sabia se dava o braço a torcer à minha filha, confessando que as secretárias de todos os andares jaziam suas mãos em meu rosto com o mesmo comentário “nossa, que pele macia” e perguntaria onde se arranja mais daqueles produtos, ou se fingiria que não teve diferença alguma, que estava feliz e bonito igualmente -- correndo o risco de nunca encontrar o esfoliante e o creme (que tirou aquele brilho da minha testa). Depois de tomar banho, sair do chuveiro e ter usufruído o dito cujo, toca a campainha. Claro que era a minha filha na porta, esperando para ver com os próprios olhos o resultado da façanha. “Pai, você está lindo! Que pele é essa? Agora admite que eu tinha razão". O que eu poderia responder? “Filha, admito que eu gostei do creme e do esfoliante, acho que vou aderir à moda, mas você também precisa concordar que o modelo ajuda”.
Segunda-feira
No acordo, eu experimentaria dois produtos para o rosto por uma semana. “Primeiro o esfoliante e depois o hidratante facial, não vai esquecer”, repetiu ela dezenas de vezes. Claro que não esqueceria. Tomei meu banho, saí do chuveiro, fiquei diante do espelho e antes de encarar o dito cujo pensei, “mas qual a quantidade de gel que eu passo?”. Isso ela não falou! Mas não perguntaria para a menina, era capaz de ela rir da minha cara e nem responder. Quanto mais, melhor, não é? Portanto estendi a mão e enchi do gel com aqueles grãos parecidos com areia e passei no rosto com toda 'delicadeza' que ela me pediu. “Pai, esses cristais servem para remover as células mortas”, pois é, mas não foram só as mortas que saíram com aquele esfrega-esfrega, as vivas também entraram na dança. Terminei aquela 'adorável' experiência com o rosto vermelho e ardendo. Depois jantei com uns amigos do futebol e nada mais. Fui lembrar da porcaria do “hidratante que controla a oleosidade da pele”, como ela explicou, só depois que voltei pra casa. Assim que cheguei em casa, passei, o que acabou sendo bom, porque o meu rosto estava bem ressecado. Acho que usei um pouco demais, porque ficou meio melecado, mas a intenção era compensar o tempo perdido. Pelo jeito não deu muito certo.
Quarta-feira
De manhã ela me liga. “E aí pai, correu tudo bem? Não esqueceu de passar o esfoliante e depois o hidratante?”, e eu, “claro que não, fiz tudo como você pediu”. Desliguei e caminhei até o banheiro, a minha sabatina estava prestes a começar. Tomei banho, saí do chuveiro, fiquei diante do espelho e antes de encarar o dito cujo me preparei: coloquei uma quantidade de esfoliante que cobriu apenas dois dedos, espalhei um pouco na outra mão e, de lá, para o rosto. Esfreguei com menos empolgação e enxagüei. Esquecendo o fato que encharquei o banheiro inteiro lavando o rosto para tirar o esfoliante, correu tudo bem. Não ardeu, não fiquei em carne viva, o rosto parecia mais limpo e desta vez lembrei do hidratante. Passei em menor quantidade que da primeira vez, mas aproveitei para colocar um pouco na mão e nos braços, afinal o creme era cheiroso. Ontem a minha secretária até perguntou que perfume eu estava usando, e claro que respondi, "nenhum, esse sou eu mesmo!"
Sexta-feira
Dono de uma pele que parecia bunda de bebê, no último dia do acordo fiquei com uma dúvida. Não sabia se dava o braço a torcer à minha filha, confessando que as secretárias de todos os andares jaziam suas mãos em meu rosto com o mesmo comentário “nossa, que pele macia” e perguntaria onde se arranja mais daqueles produtos, ou se fingiria que não teve diferença alguma, que estava feliz e bonito igualmente -- correndo o risco de nunca encontrar o esfoliante e o creme (que tirou aquele brilho da minha testa). Depois de tomar banho, sair do chuveiro e ter usufruído o dito cujo, toca a campainha. Claro que era a minha filha na porta, esperando para ver com os próprios olhos o resultado da façanha. “Pai, você está lindo! Que pele é essa? Agora admite que eu tinha razão". O que eu poderia responder? “Filha, admito que eu gostei do creme e do esfoliante, acho que vou aderir à moda, mas você também precisa concordar que o modelo ajuda”.
Publicado na Revista Sênior/ TCC (Fiam) edição de dezembro
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