Depois de muito preconceito as mulheres tomam a dianteira e mostram que dão conta de tudo o que o homens fazem e muito mais
Qual homem não perderia a cabeça por uma mulher amarrada em um espartilho? Em pleno século XXI provavelmente a grande maioria deles. Mas há cerca de 200 anos esse mesmo espartilho significou o dever do silêncio e respeito da mulher ao seu homem e à sociedade patriarcal da época. Hoje elas têm o apoio do mundo em sua luta contra o preconceito e desvalorização, porém para isso acontecer foi necessário que 130 tecelãs morressem queimadas em uma fábrica enquanto reivindicavam por direitos trabalhistas em 8 de março de 1857.
Aliás, os sacrifícios vão além da greve das trabalhadoras em Nova York. Mulheres ainda sofrem com violência, salários mais baixos, empregos piores e por aí vai. A lista de reclamações continua e ainda parece não ter fim. No entanto muita coisa melhorou. Para provar essa virada feminina houve a chegada da pílula anticoncepcional, abertura do mercado de trabalho e até mesmo a ONU – Organização das Nações Unidas – se mostrou disposta a entrar na briga quando declarou 12 direitos especialmente para as mulheres, entre eles direito à vida, à liberdade de expressão, a planejar uma família e decidir quando ter filhos.
A emancipação feminina foi uma grande conquista, porém, traz um outro desafio: se desdobrar em duas, três e até em quatro para fazer bonito em casa, no trabalho, com filho, namorado e ainda arranjar tempo para limpar a casa e fazer academia. Parece impossível, mas Christina Biltoveni é uma das mulheres que prova o contrário. Jornalista, 38 anos, Chris quase enlouquece mas consegue em uma semana trabalhar para as revistas Boa Forma, Dirt Action e Bike Action, ser professora no UniFiamFaam para 150 alunos divididos em quatro turmas, dar atenção para o filho Bruno de três anos, arrumar a casa, fazer academia e ainda sair à noite, claro, porque ninguém é de ferro. “Meu desafio é encontrar tempo disponível nas 24 horas do dia pra fazer tudo o que preciso. Muitas vezes, não dá. É uma luta diária contra o relógio. Eu estou sempre correndo, voando... É isso que me deixa ligada no 220”, completa.
A independência e o despojamento de Chris custam caro para ela. Mesmo vivendo em uma sociedade moderna, muitos se impressionam com a maneira de ela levar a vida. “Sei que sou diferente daquele modelo tradicional. Muitas mulheres têm inveja e os homens parecem ter medo desse meu jeito livre, leve e solto de ser”, diz sempre com muito bom humor. Hoje, ser aceita pode ser um obstáculo tanto para uma mulher conservadora que tenta se encaixar num meio moderno, como para quem preze a independência mas encontra no caminho pessoas preocupadas demais com o que os outros vão pensar. Talvez, o que a mulher precise dela mesma e da sociedade é aceitar as diferenças e a ela própria. Biltoveni não muda sua vida por causa de terceiros, “vou tentando ser feliz e ponto final”, e acredita que tudo é uma questão de tempo para as pessoas perceberem que, agora, a vez é das mulheres.
Publicado na revista Girafas SP edição maio de 2007
Nenhum comentário:
Postar um comentário